O último domingo, 5, foi memorável para o cinema nacional. A atriz Fernanda Torres foi a vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz dramática pelo filme “Ainda Estou Aqui” dirigido por Walter Salles. A atriz brasileira concorreu ao prêmio com Angelina Jolie, Kate Winslet, Nicole Kidman, Pamela Anderson e Tilda Swinton. Com a premiação, a atriz pode ser indicada ao Oscar desse ano.
O longa-metragem é uma adaptação do livro homônimo escrito por Marcelo Rubens Paiva, em 2015. A história verídica se passa no período da ditadura militar brasileira, e acompanha a trajetória da família Paiva: Rubens (Selton Mello), Eunice (Fernanda Torres) e seus cinco filhos. A vida da família é modificada completamente quando, em janeiro de 1971, o marido é levado por agentes da ditadura para ser interrogado e depois disso nunca mais foi encontrado. Em meio à dor, Eunice se reinventa.
“Ainda Estou Aqui”, que foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Não Inglesa, perdeu nesta categoria para o francês “Emilia Pérez”, dirigido por Jacques Audiard, filme que recebeu dez indicações e levou quatro prêmios.
O crítico de cinema PH Santos elogia a construção da narrativa calma e equilibrada do filme, cujo o foco é Eunice, mas isso não ocorre de imediato. Primeiro entende-se a relações do pai com a família e amigos para só depois, a mãe (Fernanda) assumir o protagonismo. Para o crítico “um dos símbolos mais poderosos do filme é o vazio”. Após o sequestro, o vazio é trabalhado em todos os elementos como na trilha sonora que se torna “apenas pontual, ela vem marcar o sentimento e depois sai deixa o silêncio, deixa uma ausência sensível, uma ausência incômoda preenchida apenas por diálogos e pelos micro-sons de um ambiente que agora nunca será tão cheio de alegria, de amigos e de história como era cenas atrás. A atuação de Fernanda Torres parece dominar esse silêncio como uma presença mágica que controla o tempo”, analisa.
O jornal Correio de Itapetininga conversou com espectadores itapetininganos que assistiram o filme, veja a seguir os depoimentos:
“Fernanda Torres nos presenteou esta semana com um Globo de Ouro pelo filme ‘Ainda Estou Aqui’, mas não podemos esquecer que o trabalho desta brilhante atriz é o compilado de anos atuando em diversas obras que representam muito do que é o Brasil. Muito lembrada pelos seus papéis cômicos como na série ‘Os Normais’ ou ‘Tapas e Beijos’, Fernanda Torres brilhou ainda nova no cinema com o excelente ‘A Marvada Carne’ (1985), onde interpretava a caipira Carula que sonhava em casar. Dez anos depois em outro filme, ‘Terra Estrangeira’, também de Walter Salles, assim como ‘Ainda Estou Aqui’, Fernanda vai para outro extremo de interpretação dramática nesse filme que enche os olhos com lindas imagens em preto e branco. A ditadura destruiu mais que alguns militantes. Destruiu sonhos, mulheres e famílias inteiras que conviveram com o silêncio ensurdecedor de não terem respostas sobre seus familiares. Fernanda conseguiu retratar as sutilezas desse silêncio, dessa mãe, sem comportamentos clichês, que acabou se tornando símbolo no reconhecimento dos desaparecidos da ditadura e uma mulher importante também na luta pelos direitos indígenas. Fernanda Torres é a arte brasileira deixando sua história no mundo” – Thais Maria Souto (Cientista Social, Mestre em Estudos Culturais)
“O ouro para a rainha; a arte brasileira está em êxtase desde a nomeação de Fernanda Torres como a melhor atriz em filme de drama. A sua atuação sem dúvida ajudou a abrir uma cicatriz que dói a todos os brasileiros que prezam pela liberdade. Ela conseguiu mostrar o outro lado de quem estava atrás dos panos do regime de 1964, onde tantas outras famílias que ainda estão aqui buscando uma resposta para alguém que o Brasil foi incapaz de responder. Não há palavras para descrever o filme e nem a atuação dela, pois, tudo que podemos escrever já foi falado, apenas que esse drama trágico nunca mais se repita!” – Fabrício Rocha (Estudante de Jornalismo)
“O filme ainda estou aqui é um filme extremamente necessário para o Brasil, pois retrata de forma sensível e sutil as verdades ocultas sobre a ditadura e que elas nunca deverão ser esquecidas. A performance de Fernanda Torres no filme ‘Ainda Estou Aqui’ é de uma pureza inenarrável, Eunice Paiva viveu o luto pelo seu marido em silêncio, pois na ditadura ‘Mata-se a vítima e condena-se toda a família a uma tortura psicológica eterna’ (Eunice Paiva). Fernanda em sua belíssima atuação possibilitou que esses silêncios, essas vozes que foram roubadas pela época, não resultassem em uma atuação fria ou distante, mas sim em um amor profundo e tocante por sua família” – Juliana Mendes Nogueira (Técnica em Desenvolvimento de Tecnologia)
“Fernanda Torres, atriz entregue à arte de representar todos os papéis possíveis em sua carreira. Muitas camadas, tons, gestos e olhares completamente diferentes a cada construção. Fernanda ganhou o prêmio em uma sala cheia de gigantes; o troféu é de Torres, é de Montenegro, mas é principalmente do Brasil, da cultura brasileira. E o brasileiro gosta muito de ganhar, seja no futebol, na ginástica, no skate, nas pistas ou na tela do cinema. Esta semana, paramos para assistir e vibrar com uma atriz brasileira ganhando uma das estatuetas mais importantes do mundo no audiovisual. É o cinema nacional, que entra em uma nova fase, onde é cafona demais achar nossos filmes fracos ou desinteressantes. Queremos ver nossos filmes nas salas de cinema do país inteiro, contar nossas histórias, nos vermos na telona” – Alexandre Canda (Diretor do Curta Itapetiningano “O Resgate da Lenda”).
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