O professor, arquiteto e pesquisador Igor Chaves foi premiado esta semana durante a Mostra Fotográfica do Enanpur 2025, o maior congresso de planejamento urbano e regional do Brasil. Na série fotográfica “Autotomia do Patrimônio”, ele percorreu a pé os 60 km de trilhos da antiga Estrada de Ferro Sorocabana no município, registrando os vestígios do patrimônio ferroviário e os novos usos desses espaços.
Confira as fotografias no final da reportagem.
Moradia em espaços históricos
Baiano de nascimento, mas “itapetiningano de coração” – como gosta de dizer, já que vive na cidade desde os três anos -, Chaves conta que o que mais lhe chamou a atenção foi ver os antigos espaços da ferrovia sendo reutilizados de outras formas.
“Sempre vemos espaços patrimoniais, como antigas estações de trem e galpões, transformados em centros culturais. O que eu encontrei, porém, foi algo diferente: esses espaços sendo utilizados como moradia”, relata.
Entre os registros, por exemplo, está uma foto de dona Wilma, que atualmente reside em uma antiga casa de energia — um edifício que antes servia para abrigar o maquinário da ferrovia e que, há mais de 20 anos, passou a ser utilizado como moradia. Para Igor, esses novos usos revelam que a definição sobre o destino desses espaços não deve ser exclusiva de pesquisadores ou gestores. “A participação de quem está lá é de grande importância. Às vezes, são outros usos, muito mais interessantes para quem é daquela comunidade, e nós, à distância, nem nos damos conta”, completa.
Expedição
A expedição fotográfica realizada durante seu mestrado com foco em História Urbana, também foi marcada por desafios físicos e logísticos. Chaves relata que demorou três dias andando e acampando. “Passei frio, medo de cachorro, cansaço… Não tinha tanta experiência e voltei com os pés machucados”. Em um dos trechos, entre Morro do Alto e Rechã, precisou acampar em uma fazenda de laranjas. “Ouvia os cachorros de longe, mal dormi… Mas também tirei uma foto noturna do céu esplêndida!”
Patrimônio e identidade local
Para o pesquisador, esses vestígios industriais são fundamentais para a identidade local. “Eu os considero uma extensão do nosso território; são parte dele, não são objetos separados da nossa realidade.” Ele critica a visão que trata esses espaços como pontos negativos ou de esquecimento: “Precisamos voltar a reimaginá-los no agora… E tudo começa antes, na imaginação, no que alimentamos o pensar até se materializar.”
O título da série faz referência ao poema “Autotomia”, da polonesa Wislawa Szymborska, que fala sobre a ideia de abrir mão de partes de si para sobreviver – uma metáfora que Igor aplica ao patrimônio ferroviário, muitas vezes abandonado ou transformado, mas que ainda carrega histórias de trabalho, moradia e resistência.
Premiação
O prêmio na Mostra Fotográfia do Enanpur, maior evento científico da área na América Latina, veio como dupla comemoração para Chaves, que também teve seu artigo de doutorado sobre a Região Metropolitana de Sorocaba aceito no congresso. “Estou duplamente feliz, havia mais de 100 trabalhos inscritos, e apenas uns 10 foram homenageados”, comemora. Apesar da premiação, ele não pôde comparecer à cerimônia realizada esta semana em Curitiba, por estar a um mês de entregar sua tese.
Novos projetos
Animado com os desdobramentos do projeto, Chaves adianta que pretende transformar o material em um álbum fotográfico e criar um roteiro turístico pela ferrovia. O professor também está envolvido em outros projetos culturais, incluindo uma peça teatral sobre a história da ferrovia e um documentário sobre a igreja do Rosário. “O que melhor do que aproximar as pessoas desses lugares, senão as levando até eles?”, finaliza.
Confira abaixo as fotografias da série “Autotomia do Patrimônio” do pesquisador Igor Chaves:
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