Casarão antigo chama atenção pela preservação

A arquitetura brasileira é marcada por seus períodos. E em uma cidade tradicional como Itapetininga, é de costume dos moradores observarem casas e casarões antigos, alguns ainda em pé, em meio aos novos prédios que surgem, demonstrando a divergência de épocas ou muitas vezes misturando o novo com o tradicional.

O empresário Alaor Junqueira Filho, é proprietário de uma residência com arquitetura antiga e conta que, inicialmente, havia comprado o imóvel para montar um negócio para suas filhas. “Esse imóvel foi adquirido para as minhas filhas começarem um empreendimento aqui na cidade. A ideia era criar uma loja fora dos padrões, quase uma loja de departamentos, que tivesse roupas infantis, masculinas e femininas, além de um bar para receber os clientes”.

O projeto inovador exigiu uma grande reforma na casa, que, apesar da estrutura sólida, já apresentava diversos problemas decorrentes da idade. Segundo Alaor, a casa passou por uma transformação completa. “Tudo foi trocado nela. A parte elétrica estava detonada, as paredes precisaram ser reforçadas, os encanamentos substituídos, a caixa d’água também. A estrutura original era muito boa, com paredes largas, mas como era saibro (material composto por areia) em vez de cimento, foi necessário um revestimento especial para evitar que a umidade deteriorasse as paredes pelo lado de fora”.

Após essa primeira reforma, a casa passou por mais duas adaptações para se tornar uma moradia confortável após o fechamento do empreendimento. “Foram construídos novos banheiros, dormitórios, salas e, por último, uma cozinha moderna, que antes era a recepção e a sala de TV da loja”, explica.

A recuperação da residência se tornou um exemplo de que é possível preservar a história ao mesmo tempo em que se adapta um imóvel antigo às necessidades contemporâneas.

 

O casarão, localizado no centro de Itapetininga, antes de sua reforma. A estrutura original era feita de saibro (material composto por areia), em vez de cimento. Foto – Arquivo pessoal

No entanto, o empresário lamenta a falta de iniciativas semelhantes em Itapetininga. “O patrimônio histórico é muito importante para as cidades. Outro dia, ouvi um relato de alguém que voltou para sua cidade natal depois de se aposentar e não a reconheceu mais. Sem essa memória, o vínculo com o lugar se perde”, reflete.

Ele cita, como exemplo, uma casa da mesma época localizada em frente à sua, que está em estado de abandono. “Venho tentando mantê-la em pé, evitando invasões e oferecendo um mínimo de estrutura, mas ninguém faz nada por ela. Essa casa tem cerca de 120 anos e está completamente largada pelo poder público”.

Para aprofundar a questão da preservação arquitetônica e entender a importância das construções antigas, conversamos também com o arquiteto Renê Mattos. Ele explica que as casas históricas de Itapetininga apresentam uma grande diversidade de estilos arquitetônicos, refletindo diferentes influências culturais. “Os principais estilos encontrados na cidade incluem o Neoclássico, presente em edifícios públicos como a escola Peixoto Gomide e o clube Venâncio Aires, o Colonial Brasileiro, como o casarão que abriga o Museu e Casa da Cultura, agora em reforma, e o Art Déco, como o casarão dos Pixas”, explica o arquiteto.
Além da estética, essas casas também revelam aspectos do modo de vida de épocas passadas. “As plantas arquitetônicas eram bastante diferentes das atuais. As casas não tinham recuos, jardins frontais ou garagens, pois poucas famílias possuíam automóveis. O banheiro, por exemplo, geralmente ficava nos fundos da casa, próximo à cozinha, por uma questão de praticidade na instalação hidráulica”, destaca Mattos.

Outro ponto importante é a técnica construtiva, que mudou muito ao longo dos anos. “Antigamente, era comum o uso da taipa de pilão, uma técnica que utilizava barro amassado para construir paredes grossas e resistentes. Essa técnica foi substituída pelo uso de tijolos maciços e, posteriormente, pelos tijolos cerâmicos que usamos até hoje”, afirma o arquiteto.

No entanto, a manutenção dessas casas é um grande desafio. “A restauração de um imóvel antigo pode ser cara e trabalhosa, pois muitos dos materiais originais já não estão disponíveis no mercado. Além disso, problemas estruturais podem surgir, exigindo conhecimento técnico especializado para evitar comprometimentos na construção”, completa.

No mercado imobiliário, casas antigas costumam ter um valor inferior às construções modernas, justamente por conta das adaptações necessárias. “A maioria dos compradores busca imóveis com plantas arquitetônicas que atendam às necessidades contemporâneas, como suítes, garagens espaçosas e áreas gourmet, características que muitas casas antigas não possuem”, observa Renê.

 

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