O projeto “A Plêiade”, idealizado pelo artista DBrizze, vem como uma resistência cultural, com o objetivo de fortalecer a imagem do hip hop no interior paulista. A ideia reúne MCs e produtores locais que transformam poesias e pensamentos em músicas, buscando eternizar a essência do hip hop itapetiningano.
De acordo com DBrizze, a ideia apareceu durante a pandemia da Covid-19, em 2021. “A Plêiade nada mais é do que uma reunião de poetas que já colaboravam em trabalhos há anos. Mas a ideia do projeto surgiu na pandemia, quando as restrições impediram eventos e encontros presenciais. Eu e Samuque, que faz instrumentais, começamos a nos reunir para criar música de forma espontânea. Ele produzia o beat e, ali mesmo, a gente já escrevia a letra. Foi assim que nasceu a ideia de fazer músicas e lançar um trabalho musical nesse formato”.
O coletivo tem como missão gravar discos, EPs e singles em uma cidade onde é praticamente impossível viver da música, segundo o idealizador. “Muitos desistiram do rap sem sequer lançar um disco na cena. Podemos ver isso olhando para coletâneas como Hip Hop Itapê (1999-2000), Um Gueto Chamado Itapê e, anos mais tarde, Ritmo, Atitude e Poesia, do Dabliueme e da Fyabomb. Muitos desses artistas não seguiram na música porque precisavam sobreviver”, conta o artista.
Além da falta de investimento, DBrizze destaca que a cultura local sempre enfrentou dificuldades. “A união entre artistas é essencial, principalmente no Rap e numa cidade como a nossa, onde sempre faltou incentivo. Veja o pessoal da moda de viola, que é uma das raízes culturais de Itapetininga. Mesmo eles não tiveram o suporte necessário. A galera recebeu um espaço para tocar, mas sem remuneração e sem condições adequadas para mostrar sua arte”.
A maior contribuição de “A Plêiade” é lançar trabalhos musicais originais e manter viva a essência do hip hop. “Rap significa ritmo e poesia. Qualquer MC que distorcer isso, para mim, não está fazendo rap. O projeto existe para que quem tem uma poesia possa ouvir sua poesia em forma de música. E isso só é possível com a união entre produtores e artistas locais”, afirma.
A falta de apoio financeiro e de visibilidade na mídia também são desafios constantes. “Se houvesse união entre os produtores locais, seria algo muito saudável para a cena. Mas, exceto o Dabliueme, que fortalece o Rap Itapê desde os anos 90, nenhum outro fez o mesmo. Com a ascensão do rap na grande mídia, surgiram artistas com outras visões, mas que, no fim, não fortalecem quem sempre levantou a bandeira do Hip Hop na cidade”, critica DBrizze.
Diante dessas dificuldades, a divulgação das músicas acontece de maneira independente. “A estratégia é a internet e o famoso ‘tête-à-tête’, aquele trabalho de rua, na boca a boca. Não temos um grande alcance, mas seguimos resistindo”, diz. Mesmo com poucos recursos, o coletivo continua evoluindo e já lançou o disco “Salve Quebrada”, reunindo diversos nomes da cena local e prestando homenagens a figuras importantes do hip hop Itapê.
Outro desafio é a inclusão de mulheres no Rap local. “Seria lindo se tivéssemos mais mulheres na cena, mas sem incentivo e sem eventos, é muito difícil. Já tivemos grandes nomes femininos, mas elas não conseguiram espaço”, lamenta.
Mesmo com as dificuldades, D’Brizze reforça a importância de manter o Rap vivo na cidade. “A Plêiade segue firme, mostrando que o rap de Itapetininga está mais vivo do que nunca. Nosso foco agora é fortalecer todos os artistas, independentemente de estarem no projeto ou não. Mas pedimos que ouçam e compartilhem Salve Quebrada, que foi feito com muita dedicação e amor ao hip hop”, finaliza.
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