Milton Cardoso
Especial para o Correio de Itapetininga
No último domingo, dia 11, no “Dia das Mães”, um importante fato ocorrido na mesma data, há 130 anos, passou quase despercebido pela maioria dos itapetininganos: a chegada do primeiro trem de passageiros da Sorocabana, inaugurando o aguardado ramal Tatuí – Itapetininga, de 43 km. Naquele longínquo sábado de 1895, essencial para a economia paulista e que impactaria o modo de vida da cidade, uma multidão ansiosa aguardava o comboio na estação férrea.
A população eufórica “toda ali estava, assim como todas as autoridades locais, sedenta de curiosidade, à espera da chegada do trem inaugural”, narra Antonio Galvão Junior em seu livro “Itapetininga e sua História”. Para distrair o público, duas bandas de música executavam músicas da época.
“De repente, ouviu-se o apito estridente da locomotiva lá dos lados da atual oficina da Sorocabana. Gritos, correrias, vivas e milhares de bandeirinhas eram agitadas para o ar. As duas bandas de música, dispostas nas duas extremas da plataforma, começaram a tocar. Certo nervosismo se apoderou dos presentes”, continua Galvão Junior.
O aguardado trem chegou minutos depois “soltando grossas golfadas de fumaça. Está todo enfeitado com bandeirolas, trazendo no primeiro carro a banda de música de Ipanema, que executava peças de seu repertório e, no carro seguinte, o presidente e membros da Companhia
União Sorocabana e Ituana, engenheiros e funcionários do Banco Construtor do Brasil e outras pessoas de relevo social”.
Galvão Junior descreve o cenário: “A população delirava. Todo o mundo queria ver de perto o primeiro ‘trem de ferro’ que chegava a Itapetininga com exceção de uns poucos matutos que fugiram espavoridos”. Segundo o jornalista, o maquinista e o folguista “eram alvos da admiração do povo que se comprimia na plataforma da estação. E os foguetes estouravam no ar, anunciando o faustoso acontecimento”.
O trem simbolizava a modernidade tão desejado para uma cidade de economia e costumes rurais. O transporte entre Itapetininga e a vizinha Tatuí, cidade vizinha, era realizado por carroças. “Era o progresso despontando no horizonte. Boa esperança para a população. Todos queriam ser ferroviários. Meu avô foi um dos primeiros e com ele levou muitos parentes e principalmente papai”, escreveu o ex-ferroviário Dirceu Campos. “Mas retornando ao progresso. A nossa cidade e região que contava apenas com carroça tração animal, não existiam veículos motorizados. Agora com transporte eficiente e importante. Encurtava distância, transportava passageiros em grande quantidade e cargas”.
No decorrer das décadas, embarcaram e desembarcaram nos seus vagões, entre eles políticos, artistas, clérigos, atletas e um membro da corte imperial, o príncipe Gastão de Orleans, conhecido por conde D’Eu, que voltava do sul do país. O trem em que ele viajava ficou retido alguns dias em Itapetininga devido obstrução da linha férrea.
Havia, obviamente, o interesse da imprensa itapetiningana em obter alguma entrevista com o conde, porém era quase impossível. Conta-se que a jovem Anésia Pinheiro Machado que na época trabalhava no “Diário de Itapetininga” na rotativa do jornal e escrevia, se colocou à disposição do editor. Horas depois voltou com uma reportagem exclusiva, causando estrondosa repercussão.
O trem de passageiros as Sorocabana (já como FEPASA), foi desativado no final da década de 70. Hoje, restaram histórias resgatada por memórias das pessoas e, praticamente, o silêncio dos trilhos. Além da teimosa esperança, para que um dia ela volte como meio de transporte pois “já seria de grande valia para quem trabalha em outras cidades ou ainda quer desfrutar de uma viagem calma, que se pode observar a paisagem, desafogando assim as outras vias de tráfego urbano”, declarou certa vez a Mayara Nanini, o arquiteto Igor Chaves autor do indispensável livro sobre o assunto, “O Legado da Estrada de Ferro Sorocabana em Itapetininga” (2022).
Hoje, só resta a lembrança…
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