Um espaço jamais preenchido

Milton Cardoso
Especial para o Correio de Itapetininga

Há um ano o jornalismo itapetiningano perdia a sua maior referência, Alberto Isaac. O jornalista, escritor, professor e comerciante faleceu no dia 8 de junho, aos 97 anos. Amanhã, às 19 horas, será celebrada a missa na Catedral de Nossa Senhora dos Prazeres, Matriz, localizada no centro da cidade.
Itapetiningano, Alberto Isaac começou a escrever para “O Estado de São Paulo” na segunda metade da década de 1950. Em suas matérias para o diário, encarou o jornalismo com seriedade. “Em busca da verdade, sem comprometimento com grupo algum, idealismo e abnegação”, escreveu certa vez seu filho, Fuad Abrão Isaac.

Entre tantas reportagens escritas para o “Estadão”, uma das mais marcantes foi sobre a maior revolta popular da cidade ocorrida em 9 de outubro de 1958. A manifestação no prédio da Sul Paulista na rua Aristides Lobo gerou quebra-quebra, e o escritório da companhia foi depredado e queimado.
Alberto Isaac também colaborou para a “Folha de Itapetininga”, o “Jornal Regional”, o “Diário de Sorocaba”, a “Gazeta de Itapetininga”, entre outros veículos da imprensa escrita. Editou “O Recado” e, durante anos, escreveu preciosas crônicas neste semanário, as quais encantavam jovens e antigos leitores. A ausência de suas crônicas no “Correio” causa uma lacuna irreparável em nossa imprensa.

Em uma antiga publicação, Fuad elogiava o trabalho investigativo do pai em busca da notícia além do release. “(Era) um jornalista ‘fuçador’, sempre com a intenção de descobrir personagens que ficaram perdidos na memória de nossa cidade, ou que nunca existiriam além das lendas populares. Exemplo disso foi a redescoberta de Nhô Bentico, numa matéria para o ‘Estadão’ em 1968, ou então da mulher de Sarapui que viveu anos no cemitério com seu vestido de noiva amarelado, chorando por seu noivo morto no dia do casamento. Teríamos milhares de exemplos como esses”, escreveu para “O Recado”, em 1987.
Esse relato do próprio filho mostra que o trabalho jornalístico de Alberto Isaac era marcado não só pelo detalhismo, ou seja, pelo tempo gasto na checagem das informações, no cruzamento de dados e na escuta de diversos personagens, mas também pela capacidade apurada na escrita, fatos que o tornavam um profissional completo.

“Eu sou apaixonada por Itapetininga e poder ter tido a honra de atuar na minha área, que é o jornalismo, ao lado do grande mestre Alberto Isaac, que assim como eu também é apaixonado por esta cidade, vale mais do que qualquer outra experiência no currículo. Ele era uma destas pessoas que a gente aprende só por estar perto, de tão elevado nível de excelência naquilo que ela se propõe a fazer. Choramos a saudade, mas celebramos as Vivas Memórias que o mestre nos deixou”, comenta a jornalista Carla Monteiro.

O jornalista era apaixonado pela leitura, por isso, em sua residência, possuía uma quantidade invejável de livros, de clássicos como “Dom Quixote”, de Cervantes, a escritores locais, como o Poeta do Monte Santo. Seus escritores prediletos eram Fernando Moraes, Jorge Luiz Borges, Nelson Rodrigues, Rubem Braga e Sérgio Porto.

De gosto refinado, ele adorava as composições de grandes nomes de nossa música popular, como Adoniran Barbosa, Ângela Maria, Cartola, Elizeth Cardoso, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, entre outros.

O escritor foi casado por mais de 60 anos com Therezinha Abrão Isaac, a Dona Eza, e pai de Andreia, Silvana e Fuad e avô de Alberto Isaac Neto. Aos finais de semana, Alberto e sua esposa adoravam dançar. Ele também era presença constante no saudoso grupo “Vamos ao Teatro”, organizado por Leomira Nunes. Amante do cinema, um de seus filmes preferidos era “Cinema Paradiso”, dirigido por Giuseppe Tornatore e exibido no Brasil em 1990.

Num país com pouca memória, reler ou conhecer a herança dos textos deixados por Alberto Isaac é uma chance única de conhecer, principalmente, uma cidade que se transformou a partir dos Anos Dourados – suas riquezas, lembranças, diversidades e adversidades culturais. Quem sabe, em breve, não possamos ler uma biografia de sua rica história ou assistir a um merecido documentário.

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