Por Maria Clara Ferrari – graduada em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista em 1980, Latu Sensu em Gestão Agroindustrial pela Universidade Federal de Lavras. Experiência na área de agronomia com ênfase em assistência, consultoria e produtora rural na área de pecuária de cria da raça Nelore. Na área acadêmica sou Professora do curso de Tecnologia em Agronegócio da Fatec de Itapetininga na área de Planejamento Estratégico, Projetos de investimentos (Planos de negócio na agropecuária), Desenvolvimento rural, Associativismo e Cooperativismo.
São diversos os fatores que acabaram contribuindo para essa calamidade que correu no RS como o fenômeno El Niño, aumento da temperatura do oceano Atlântico e a umidade da Amazônia, mas, também não se pode esquecer da ação humana no crescente desmatamento e na compactação dos solos e assoreamento dos rios que contribuem para toda esse quadro caótico que eles estão vivendo. As chuvas afetaram tanto a produção agropecuária pela morte de animais, como as culturas de verão ainda não colhidas e a semeadura das culturas de inverno no Estado.
De acordo com o IBGE antes das chuvas, se estimava que a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas do Rio Grande do Sul cresceria 46,4% neste ano, em relação ao ano anterior.
De acordo com dados do Canal Rural, os impactos foram diferentes em cada região do Estado, no litoral provocou perdas de 100% nas lavouras de soja e alagamento de silos de arroz, no caso do arroz já havia sido colhido algo em torno 75%, mas alguns silos sofreram alagamento com 1 metro de água em sua base, outra região como a central do Estado teve município que os produtores perderam tudo desde a colheita, animais e maquinários. No norte do Estado o impacto foi na infraestrutura que prejudica ou impede o escoamento de produtos de origem animal como frango, suínos e bovinos bem como a chegada de ração e outros insumos básicos para essas produções. E no caso do leite há o agravante que alguns laticínios estão submersos de acordo com o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (FARSUL), Gedeão Pereira (maio/2024).
O impacto só não foi maior porque 76% da soja e 83% do milho plantados no Estado já tinham sido colhidos. Além de que o período de semeadura de grãos de inverno como trigo e aveia, e o RS é um dos maiores produtores nacionais, como ainda não começou, não é possível avaliar o impacto ou não dessas lavouras, agora na semeadura das pastagens de inverno foi prejudicado pois as sementes já estavam em período de germinação e estão submersos dados informados pelo Diretor técnico da empresa de extensão técnica e extensão rural do estado (Emater-RS), Claudinei Baldissera(maio/2024).
Apesar do peso do Rio Grande do Sul na agropecuária nacional o Estado responde por 70% da produção nacional do arroz, e mesmo estando com 78% da área total colhida, ainda não se sabe o verdadeiro impacto pois falta ainda 22% da área cultivada para ser colhida, e esse volume representa expressivos 16% da safra estimada para o país, o Estado também é o segundo maior produtor de soja do país. Essa situação coloca em risco 5% da safra estimada para o país, que é de 147 milhões de toneladas. No caso do milho, a colheita da safra de verão foi paralisada devido ao excesso de chuvas e alagamentos, afetando cerca de 27% da área total plantada no estado. Essas condições de risco representam 6% da 1ª safra estimada para o país.
Na pecuária em 2023 ocupou a terceira colocação no abate de frangos e suínos, o quarto maior produtor de ovos e o quinto entre os produtores de leite, o presidente da FARSUL e o diretor técnico da EMATER acreditam que não haverá grandes impactos no abastecimento de produtos alimentícios para o resto do país. “pelo tamanho do agro no Brasil, pelo tanto que se cultiva, não acredito que haverá impacto severo no abastecimento”. Porém o presidente da FARSUL alerta que poderá haver algum impacto no fornecimento de arroz e, em um curto prazo, da carne de frango, mas ressalta que teriam estoque suficiente de arroz para chegarmos à próxima safra.
E de acordo com reportagem vinculada ao Canal Rural o Ministério da Agricultura, por sua vez, anunciou que importará até 1 milhão de toneladas de arroz para abastecer pequenos mercados, em periferias das cidades e nas regiões Norte e Nordeste, a fim de evitar aumentos de preços resultantes de problemas no escoamento e perdas nas produções do cereal.
No município de Itapetininga, observa-se não o excesso de chuva, apesar dessa mudança de clima, mas a sua falta e uma onda de calor anormal para essa época do ano que afeta diretamente o plantio das culturas de inverno, os pastos, a temperatura interna das granjas entre outros impactos nas atividades do setor agropecuários, isso acaba criando um clima de insegurança para o produtor rural. Acredito que será um inverno difícil onde estaremos jogando com a “sorte” como se diz “ a gente planta mas se vai colher só Deus sabe” principalmente na atividade de cultivo sequeiro sem uso de irrigação e naquelas que usam a irrigação, o impacto do calor na fisiologia das plantas que acaba reduzindo a produtividade inicialmente esperada, uma situação de muita cautela.
Em relação ao preço dos produtos neste momento quem mais irá sentir é o consumidor final por um lado pela disseminação de fakes e por outro lado pela desorganização de estoque regulador do Brasil, um país que não conhece a sua realidade e capacidade de armazenagem deixa a população na mãos dos especuladores que aproveitam a situação de caos para se aproveitarem, e de outro lado a falta do hábito do produtor de se garantir por meio do seguro rural também o deixa em uma situação de alto risco, neste quesito as cooperativas agropecuárias poderiam ser uma ferramenta de grande ajuda para realizar seguros coletivos e com isso reduzir seus custos, comum nos Estados Unidos.
Em relação aos preços das commodities como a soja, o mercado internacional já reage às possíveis perdas, com as cotações futuras em Chicago mantendo-se elevadas, com um prêmio de risco. A contabilização das perdas nas áreas não colhidas no RS continuará a influenciar os preços. No momento a única recomendação seria o acompanhamento das oscilações dos preços, e das oscilações climáticas aqui e no mundo para negociar a safra no momento mais propícios.
O post O impacto das chuvas do RS no agronegócio brasileiro apareceu primeiro em Correio de Itapetininga.